terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Parabéns (?) São Paulo



É o primeiro aniversário de São Paulo que tenho a oportunidade de dizer algo sobre ela. De dizer que, ao conhecê-la, temos a noção de a conhecermos muito menos do que conhecíamos. Sabia de ouvido, da poesia concreta de suas esquinas do Caetano, a Torre de Babel da garoa que rasga a carne do Mano Brown, da Selva de Pedras dos Titãs e de quanta dor causava a Tom Zé.

Pois logo que desci em Cumbica, armei um trocadilho esperto para twittar, baseado em Sampa: queria dizer, em poucos caracteres, que não parecia de fato que Rita Lee era a sua mais completa tradução. Pouco tempo depois, a ex-cantora-brilhante, agora só cantora, soltou asneiras preconceituosas sobre Itaquera, ZL.

Alguma coisa estava errada e me pareceu óbvio, por um instante: a Zona Leste é a São Paulo real, expressão mais certeira do caos de uma grande cidade abarrotada que tem na Linha Vermelha, o epicentro da tragédia humana, o "kit de esgoto a céu aberto, de parede e maderit" enquanto Rita, ex-mutante e agora insider, experimentava a São Paulo tucana, da maior frota de helicópteros do mundo, que da ZL tentava, no máximo, o Shopping Anália Franco. Talvez um exagero, certamente uma simplificação barata.

Tamanho rancor se justificava. Deve ter começado da fantasia, que cansei de ler e ouvir, que a Paulicéia não parava e que seria possível encontrar para assistir até mesmo um balé-ucraniano-às-quatro-da-manhã-caso-experimentasse-uma-noite-insone. Do interior pé-vermeio do Paraná, somos paulistas por vontade ainda que sem saber direito o que é sê-lo. No Café mais visitado de Maringá há no Menu a opção "Vila Mariana" e nossa praça central é Raposo Tavares. Corintiano, maloqueiro e sofredor de TV, cheguei me sentindo em casa. Que engano babaca! Logo soube que a cidade não parava, mas o Metrô fechava 0h20 e só voltava a funcionar às 4h40, que o Paraná é tratado como "o Sul" e que o ingresso do Corinthians era o mais caro de todos os clubes da capital (e provavelmente mais caro também que aquele balé russo da madrugada).

São Paulo, no entanto, é ao mesmo tempo menos e mais do que tanto se diz sobre ela. É menos porque não merece carregar, nas costas, a cruz de toda desgraça de nosso modo de acumulação, expansão e exploração do trabalho humano. Ela é apenas o centro que mais longe se permitiu ou conseguiu ir, nisso tudo. Colhe os louros da vitória do capital e o vômito do mal-estar da civilização. E ao mesmo tempo é mais porque, ao condensar tanta gente, tanta força e capacidade criativa, acaba por potencializar, por entre a fumaça que parece chuva e as buzinas que não param, respingos de expressão de dignidade, arte e beleza, grandezas que deviam ser um horizonte, ainda que distante.










3 comentários:

Bruno Vicentini disse...

Genial, caro amigo, estás com a razão.

Guilherme Tadeu de Paula disse...

Bruninho, que honra você por aqui!

Henrique disse...

belo texto seu Guilherme! aqui no Rio soh a sensação de estranhamento... mto longe do meu imaginario capiau.
abraço!